Vinicius Alves, da Tullett Prebon Brasil, considera que se o Banco Central interromper o aumento da Selic em setembro, será obrigatório fazê-lo mais adiante

O macroestrategista-chefe da corretora Tullett Prebon Brasil, Vinicius Alves, projeta que a política fiscal se alinhará à política monetária até o encerramento de 2024 caso o déficit se mantenha em 0,6% do PIB

O macroestrategista-chefe da corretora Tullett Prebon Brasil, Vinicius Alves, projeta que a política fiscal se alinhará à política monetária até o encerramento de 2024 caso o déficit se mantenha em 0,6% do PIB

Direitos autorais Reprodução/LinkedIn – 30.ago.2024

Paulo Silva Pinto

O analista econômico Vinicius Alves, de 34 anos, macroestrategista-chefe da Tullett Prebon Brasil, sugere que o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) terá que proceder com um aumento na taxa Selic nas reuniões de 17 e 18 de setembro ou em encontros futuros.

Ele prevê um crescimento de 0,25 p.p. (ponto percentual) em setembro, de 10,5% anuais para 10,75%. O dirigente do BC, Roberto Campos Neto, mencionou na sexta-feira (30.ago.2024) que qualquer reajuste na Selic “será feito com cautela”.

Confira (3min59s):

Veja a entrevista completa (21min59s):

Leia alguns trechos destacados da entrevista:

  • Selic – “Caso não ocorra uma elevação na próxima sessão, o BC se encontrará em um dilema, especialmente em relação ao real, que pode devalorizar-se ainda mais. Com isso, a certeza de um aumento nas sessões seguintes é maior”;
  • PIB – “A atividade econômica este ano está expressivamente vigorosa. Estamos observando algumas surpresas positivas, sobretudo no primeiro trimestre, devido ao pagamento dos precatórios realizados pelo governo. Isso também gera demanda agregada. A projeção do mercado está em torno de 2,6% [no ano]. Nós estamos com uma estimativa de 2,8%. Quanto ao PIB do segundo trimestre[na terça-feira 3.set], espera-se um crescimento de 1,1% sobre o trimestre anterior”;
  • Intervenção no câmbio – “O fluxo de saída de dólares [por causa da alienação de ações] estava previsto em US$ 1 bilhão. Essa previsão seria a razão para o BC promover o leilão de dólares, para equilibrar o fluxo. Contudo, o momento é delicado, visto que acabamos de presenciar a nomeação do novo presidente do BC[Gabriel Galípolo]. Ele, enquanto atual diretor de política monetária, decidiu pela intervenção no câmbio. Isso traz certa especulação de que o BC está agindo para manter o nível
    • Intervenção no câmbio – “Especula-se sobre a atuação do Banco Central no mercado cambial por meio de swaps, sem a necessidade de intervenção direta utilizando taxas de juro. O Banco Central afirma constantemente que não toma partido na definição do câmbio, deixando-o à mercê das forças de mercado. Pode ser uma associação infeliz. Nota-se uma falta de clareza na sua forma de se comunicar”;
    • Galípolo – “A nomeação era largamente antecipada. Percebe-se que o mercado intensifica sua preocupação com Galípolo considerando sua associação prévia com o governo, suscitando dúvidas sobre influência política. Todos estão sujeitos a essa pressão, inclusive Campos Neto. Refiro-me ao entendimento predominante no mercado. Com o anúncio da nomeação, os indicadores de inflação futura, presentes nos títulos do tesouro, apresentaram alta. Prevalece o temor de que [Galípolo] se conforme com um índice inflacionário superior à meta estabelecida. Ele busca firmar sua credibilidade, e essa imagem se tornará mais evidente com suas ações à frente do Banco Central”;
    • Juros nos EUA – “Antecipamos que o Federal Reserve inicie a redução das taxas de juro já no próximo encontro [em setembro]. Isso certamente favorecerá a política monetária local, sobretudo via canal de câmbio. Com um cenário global de maior liquidez, se reduzirá a necessidade de juros elevados [no Brasil e outras economias emergentes]”;
    • Política fiscal – “A expansão fiscal foi significativa nos últimos 18 meses. Observamos uma transição do superavit pré-eleitoral para um deficit no ano anterior. Houve falta de atuação por parte do Banco Central, o que é refletido pelas expectativas de inflação que se mostram deslocadas. Com a previsão de um resultado primário de 0,6% do PIB para este ano, deduz-se que as políticas fiscais serão um fator de contenção para o PIB no decorrer do ano, apoiando assim, e não mais prejudicando, a política monetária”.

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