Segundo Juan Manuel Santos, as declarações de Lula e do mandatário da Colômbia, Gustavo Petro, até o momento não se mostraram “produtivas”.

Juan Manuel Santos

O ex-mandatário colombiano, Juan Manuel Santos, comenta que o chefe de Estado da Venezuela, Nicolás Maduro, “está se segurando no comando”

O antigo líder colombiano e laureado com o Nobel da Paz de 2016, Juan Manuel Santos, ressaltou que chegou a ocasião de os líderes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e da Colômbia, Gustavo Petro, pressionarem a Venezuela no sentido de realizar eleições genuínas. De acordo com ele, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, parece estar se “agarrando ao poder”.

Na quarta-feira passada (17.abr.2024), Brasil e Colômbia se posicionaram favoravelmente a um entendimento entre Maduro e os opositores, como preliminar para as disputas presidenciais do corrente ano na Venezuela. Petro sugeriu que tal concordância seja confirmada via plebiscito, onde seriam votadas garantias para o lado derrotado. “Não acho que vai dar resultado”, declarou Santos em depoimento ao jornal.

“O que posso afirmar é que se Lula e Petro de fato almejam pressionar Maduro por eleições desimpedidas, o instante é este. A semana que vem será decisiva, pois espera-se que o regime reaja a essa união da oposição em torno da candidatura do antigo embaixador, Edmundo González Urrutia. Há a chance de que Maduro tente desqualificá-lo. Seria de suma importância que Lula e Petro lhe dissessem: ‘Honre esse candidato'”, enunciou o antigo presidente colombiano.

“Maduro não vai se expor a circular em uma trilha que tenha alta probabilidade de derrota. As sondagens já o colocam atrás da oposição unificada por no mínimo 20% dos votos”, acrescentou.

A coligação venezuelana PUD (Plataforma Unitária Democrática) revelou na sexta-feira (19.abr.2024) que Edmundo González Urrutia, aos 74 anos, será o representante nas votações da Venezuela, previstas para 28 de julho.

Urrutia foi inscrito como postulante interino em 26 de março, após o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) da Venezuela prorrogar o limite para inscrição.

A Plataforma Unitária Democrática encontrou empecilhos para confirmar uma figura na disputa. Primeiramente, a líder do grupo, María Corina Machado, ficou impedida pelo Judiciário venezuelano de exercer cargos públicos por um período subsequente a 15 anos, o que, na prática, eliminou sua possibilidade de concorrência à Presidência.

Para o Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela – alinhado ao movimento político de Maduro, o chavismo – ela teria se envolvido em uma “conspiração de corrupção”. Posteriormente, a substituta de Machado, Corina Yoris, não conseguiu efetivar sua inscrição. Ela relatou ter tentado completar o processo de registro, mas encontrou o sistema “totalmente inoperante”.

Embora Petro e Lula partilhem a mesma visão ideológica de Maduro, o governante brasileiro fez críticas ao venezuelano por negar que Corina Yoris concorresse.

“Maduro está se sustentando no poder. Eu sempre sustentei a visão de que ele apenas abdicaria se lhe oferecessem uma saída vantajosa e decorosa, tanto para ele quanto para o alto escalão do regime. Caso contrário, ele permanecerá até o último momento, defendendo sua posição”, manifestou Santos, adicionando que essa “saída honrosa” poderia ser um acordo.

Caso ele [Maduro] estivesse assegurado de que, ao ser derrotado, não seria encarcerado, ele poderia suavizar a transição. O problema é que Maduro responde por inúmeros delitos. Portanto, tal transição carece de uma negociação séria e comprometida, algo que ocorre usualmente em um processo de pacificação”, observou.

NICOLÁS MADURO

Dirigindo a Venezuela sob um regime autoritário, Nicolás Maduro Moros, aos 61 anos, chefia um governo que não assegura as liberdades essenciais, mantendo indivíduos detidos por aquilo que denomina “delitos políticos”.

Também são criticadas as limitações reportadas em documentos da OEA (acerca da “designação ilegal” do Conselho Nacional Eleitoral por uma Assembleia Nacional inconstitucional) e da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (de outubro de 2022, de novembro de 2022 e de março de 2023).


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